A cura do câncer
Texto muito bem escrito e q ilustra perfeitamente o tema, vale pra complementar oq já foi dito!
O texto é de Nelson Spector, médico, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, publicado originalmente no jornal O Globo em 5/2/98, e na Web no site Observatório da Imprensa (http://www NULL.observatoriodaimprensa NULL.com NULL.br/ofjor/curadocancer NULL.htm).
A cura do câncer
A credulidade humana é infinita. Na semana passada a Itália foi agitada com notícias de que um cordato médico italiano, o dr. Luigi Di Bella, 85 anos, trabalhando solitariamente na clínica de Modena, que construiu com as próprias mãos, descobriu há seis anos a cura do câncer
e já curou 40 mil pacientes. O "método Di Bella" é um coquetel de substâncias que inclui a somatostatina e a melatonima, hormônios normalmente presentes em nosso organismo, administrados em doses secretas, só disponíveis para aqueles médicos que "apóiam" o método. Caracteristicamente, o dr. Di Bella recusa-se a divulgar qualquer documentação referente ao seu trabalho, e não apresentou os seus resultados em congressos ou publicações médicas. Ainda assim, o clamor popular foi imenso e um juiz obsequioso logo obrigou hospitais da rede pública a fornecer o tratamento à população.
O caso Di Bella é uma lastimável repetição do mais famoso episódio de fraude médica da oncologia moderna, ocorrido no final dos anos 70 nos Estados Unidos. A droga da época era a Laetrile, ou "amigdalina", um grupo de substâncias naturais extraídas de damascos e amêndoas. Para escapar da rígida regulamentação sobre o licenciamento de drogas do Governo americano, um de seus proponentes batizou o Laetrile como vitamina B17, e propôs em 1975 a teoria de que o câncer seria um estado de deficiência desta vitamina. O Laetrile ganhou notoriedade internacional em virtude de um processo em que o sr. Glen L. Rutherford, afirmando ter sido curado de um pólipo retal com o Laetrile, pediu autorização a uma corte de Oklahoma para importar a droga em 1977. Seu pleito foi logo apoiado pelo "Comitê pela Liberdade de Escolha no Tratamento do Câncer", que acusava o establishment médico de conspiração para impedir o acesso da população ao milagroso remédio. Sob a pressão, um juiz federal decidiu que o FDA agira ilegalmente ao apreender os carregamentos de Laetrile. Em poucos meses, um frenesi tomou conta da América: milhares de pacientes abandonaram o tratamento nos melhores hospitais daquele país e passaram a adquirir o Laetrile de felizes fornecedores mexicanos. O National Câncer Institute (NCI) procurou responder rapidamente a esse desafio. Em uma modalidade de estudo até então inédita, o NCI distribuiu um questionário a 450 mil médicos e a grupos pró-Laetrile, solicitando o envio de documentação dos casos que haviam apresentado respostas objetivas ao tratamento. Embora se estimasse que mais de 70 mil americanos haviam tomado a droga, apenas 93 casos foram submetidos para avaliação. Destes, 26 foram excluídos da análise devido à ausência de um diagnóstico convincente de câncer ou de acompanhamento apropriado. Finalmente dentre os 67 casos analisados foram identificados dois pacientes com respostas completas e quatro com respostas parciais.
Este resultado desabonador foi incapaz de conter o ímpeto popular. Em 27 estados foi aprovada legislação específica sobre a liberação do Laetrile. Os maiores oncologistas da América foram acusados na mídia de ignorância e corporativismo. Os políticos exigiam das autoridades do FDA e do NCI estudos definitivos. Estes, entretanto, argumentavam que não havia nenhum propósito em gastar milhões de dólares no estudo de uma droga sem farmacologia estabelecida, sem mecanismos de ação conhecidos contra o câncer e sobretudo sem evidências de resultados em animais e em humanos. Havia dezenas de substâncias mais promissoras na fila para testes, aguardando apenas a liberação de recursos. Mas a lógica cartesiana não é o forte das massas. O argumento dos recursos foi derrotado pelos milhões de dólares que já gastava com o Laetrile. Em 1982 foi publicado um cuidadoso estudo multiinstitucional coordenado pelo chefe de Oncologia da Mayo Clinic, em que 178 pacientes com câncer foram tratados com Laetrile e mais um programa de "terapia metabólica", que consistia em dieta, vitaminas e enzimas. O estudo concluiu que nenhum benefício substantivo foi observado em termos de cura, melhora ou estabilização do câncer, melhora dos sintomas ou extensão da sobrevida
. Contradizendo as alegações de que o Laetrile era inócuo, os perigos da terapia foram evidenciados em vários pacientes por sintomas de toxicidade ao cianeto (um produto da amigdalina) ou por níveis de cianeto próximos de valores letais
.
Somente quatro anos mais tarde, quando o caso foi revisto pela Corte de Apelações dos EUA, verificou-se que além de tomar o Laetrile, o sr. Rutherford havia sido também submetido a uma cauterização do pólipo, um método clássico de tratamento desta enfermidade que não é sequer uma forma de câncer.
Já em meados da década de 80 surgiu a nova panacéia oncológica. Alegando estudos segundo os quais os tubarões seriam isentos de câncer um grupo de "pesquisadores" cubanos, aliados a intermediários americanos, iniciou uma campanha hoje plenamente vitoriosa de engambelação popular internacional. Segundo esses "cientistas" a ingestão de cápsulas de cartilagem de tubarão confere aos seres humanos esta peculiar característica desses animais. Mesmo sem questionar a veracidade desta estranha imunidade ao câncer, a falácia é dolorosamente óbvia: por que será que outras propriedades do tubaronato não são igualmente adquiridas pelo usuário? Por que não lhe crescem dentes pontiagudos, e ele sai a morder banhistas com volúpia? Ademais, não há caso conhecido de transmissão de características biológicas de uma espécie a outra através da ingestão oral de uma de suas estruturas em forma de pó.
A periodicidade de alegações desta natureza nos leva a propor algumas coordenadas ao leitor interessado, geralmente premido pelo anseio de acudir um ente querido que sofre de câncer. Antes de tudo, a palavra câncer é um termo genérico, semelhante à palavra infecção. Da mesma forma como há dezenas de infecções totalmente distintas (sinusite, meningite, gripe, malária, AIDS, sarampo, furúnculo), há quase uma centena de câncers de diferentes órgãos. Cada tipo de câncer tem as suas características, e muitas vezes um mesmo tipo apresenta subtipos com características totalmente diversas. Tratamento eficazes para leucemias, por exemplo, são inúteis para o câncer de pulmão ou de próstata. Portanto, aqui vai a coordenada número um: não será descoberta "uma cura para o câncer" porque há mais de cem formas de câncer diferentes. Algumas formas já apresentam índices muito altos de cura, enquanto outras permanecem um grande desafio.
A segunda coordenada: o progresso médico atual não mais se assemelha à fase quase mágica do início do século, com Fleming anunciando que descobriu a penicilina após a contaminação acidental de uma placa de cultura de bactérias com mofo, fungo Penicillum notatum. A medicina hoje avança em passos curtos, dois para a frente e um para trás, dados em conjunto pela comunidade científica internacional. O conhecimento é trocado e verificado continuamente, e sobretudo na etapa dos estudos clínicos é necessário o envolvimento de grandes contingentes de profissionais de saúde e de estatísticos para o controle e a avaliação dos resultados. O financiamento de pesquisas deste porte é naturalmente direcionado às universidades e institutos de pesquisa, cujo pessoal é selecionado por estritas normas de competição intelectual. A legitimação dos resultados se dá pela submissão de todo o estudo à análise do corpo editorial de revistas rigorosíssimas, que têm total autonomia para avaliar e rever os métodos e os resultados apresentados.
Em resumo, não acredite em grandes descobertas feitas por ilustres desconhecidos, trabalhando secreta e solidariamente. Se fossem grandes cientistas, eles estariam nas grandes instituições, liderando equipes numerosas de pesquisadores, entre os quais estão sempre muito dos mais brilhantes jovens do mundo inteiro. E se há alguém difícil de se enganar é um grupo de jovens brilhantes.
Poisé, absurdo uma coisa dessa. Interessante q esse caso do Luigi Di Bella é exatamente oq eu critico. Ele divulga q "descobriu" a cura, passa a cobrar caro pelo tratamento a doentes ricos com medo da morte, e se recusa totalmente a divulgar o tratamento. E oq impressiona é q o povo apóia coisa assim!
Eles sempre vem coessa conversa de boicote, qd na verdade é eles próprios q boicotam. Se tem a cura, q divulge adequadamente o tratamento, pra q ele possa ser usado em todo o mundo e curar milhões de pessoas. Se é contra o custo alto dos tratamentos, q divulgue sob alguma licença copyleft de modo q todos possam usar sem ter q pagar nada pra ele, abdique ao seu direito como autor de viver da renda da sua criação, doe a cura pra humanidade!
Mas oq eles fazem é exatamente o contrário, fecham, impedem outros médicos de usarem o tratamento ao naum informarem de forma detalhada como fazer e como chegou a essas informações. Se tem uma cura real, eles monopolizam a cura. Inqt cientistas do mundo todo ralam pra tentar descobrir... Mas claro q todos esses casos são charlatanismo, naum tem cura nenhuma, só venda de esperanças falsas e placebo. E eles naum pesquisam simplesmente pq se o fizesse iam provar oq já sabem muito bem, q naum cura nada.
Sobre essa "vitamina" B17, olha outro bom exemplo de tentar explorar gente ignorante. MESMO q câncer fosse causado por deficiência duma vitamina, a simples ingestão dessa "vitamina" depois da doença ter sido iniciada, mesmo fazendo overdose da tal, naum vai curar a doença. O máximo q essa "descoberta" beneficiaria o povo, caso fosse real, seria uma forma de prevenção do câncer, dificilmente uma cura.
No texto tb é muito bem explicado 1 dos motivos pra outros pesquisadores ignorarem oq esses charlatões falam. Pq desperdiçar verba tão escassa pesquisando tratamentos duvidosos, qd tem tantos promissores na fila esperando a oportunidade? Pq alguém arriscaria toda a carreira pesquisando um tratamento q tudo indica ser só conto da carochinha, qd tem tanta coisa mais provável de dar certo esperando? Pq nenhum denfesor desses tratamentos ilegais se dá ao trabalho de pesquisar e provar oq diz, já q dizem ter tanta certeza do sucesso?
Naum tem boicote nenhum, apenas mais candidados do q vagas pra pesquisas e pra verba. Nenhuma pessoa séria sai gritando esbravejando sem antes provar oq diz. Falar é muito fácil, fazer q é difícil. Naum tem nenhuma Indústria Malvada articulando lucrar coa morte de milhões de pessoas (de novo, morte é prejuízo pra kem trabalha na área da saúde, eles kerem q os doentes vivam pra terem outras doenças e dar renome aos profissionais, paciente morto naum gasta com remédio e ainda simboliza fracasso profissional!), oq tem é dezenas de charlatões tentando arrancar um pouco do q doentes ricos gastam tentando se curar, e qual melhor doença pra explorar do q a conhecida doença de rico?
E claro, a Ciência naum é uma caixa fechada. Oq há é falta de vagas, e claro q os melhores acabam ficando com elas. Da mesma forma q nem tobo bacharel em direito consegue se tornar advogado pela prova da OAB, tb naum é todo mundo q forna no 3º grau q consegue mestrado. Daí é mais fácil dizer q tem talento (ao ponto de descobrir uma cura q ninguém mais conhece [ou q todos os médicos conhecem mais recebem pra ficar calados ]) e foi deixado de fora do q reconhecer q naum teve capacidade e perdeu na competição.
Se alguém quer fazer pesquisa, q corra trás, vá em congressos, converse com orientadores e demonstre interesse, trabalhe. Quem naum consegue é pq naum tem capacidade ou naum tentou. Simples assim.
Agora, se o interesse é só pelo enriquecimento e/ou pela fama, aí basta mentir em público de forma irresponsável, dizer q conhece uma cura secreta e q o "meio acadêmico" (logo akele q ele keria entrar e naum conseguiu...) boicotou suas pesquisas. A maioria da população vai ignorar, mas uma pequena quantidade de pessoas vai cair na conversa fiada e pagar por essa cura.
Ciência e evolução do conhecimento naum é feito em passes de mágicas, é feito com trabalho duro e muito esforço. E doenças ainda sem cura estão nesse estado pq são difíceis de curar, ponto.

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